Na mais recente atualização do WhatsApp Business, lançada em 05 de agosto de 2025, a plataforma começou a liberar para usuários brasileiros um novo recurso: as chamadas Listas de Transmissão Comerciais.
Embora a novidade venha embalada com promessas de profissionalização da comunicação e novas métricas de desempenho, muitos empreendedores e pequenos negócios estão enxergando essa mudança como algo que, no fim das contas, elimina uma das ferramentas mais valiosas — e gratuitas — do WhatsApp para empresas.
Se você usa o WhatsApp Business há algum tempo, já deve ter notado: a opção tradicional de “Lista de Transmissão” sumiu do app em muitas contas após a última atualização.
No lugar dela, entra agora o novo modelo “Listas de Transmissão Comerciais”, que exige:
Pagamento por mensagem entregue,
Limite de 250 mensagens gratuitas por mês (por apenas 180 dias),
E uma série de restrições de uso.
Novos usuários recebem 250 mensagens gratuitas a cada 30 dias, por apenas 180 dias.
Depois disso, qualquer nova mensagem enviada por lista comercial será cobrada.
Após o limite, cada mensagem entregue custa R$ 0,33, desde que seja entregue em até 5 dias.
O WhatsApp reserva o valor total com base no número de destinatários, mas só cobra pelas entregas.
Se uma mensagem não for entregue, o valor correspondente é devolvido ao saldo da conta.
Você pode usar créditos pré-pagos, mas precisa manter saldo suficiente.
As cobranças podem ocorrer:
Quando o valor acumulado atinge um limite;
Ou no ciclo de cobrança mensal.
O custo final pode variar de acordo com o código do país do destinatário, encarecendo ainda mais envios internacionais.
Sim, o novo modelo oferece:
Métricas de leitura e resposta,
Melhor controle sobre o desempenho das campanhas,
Possibilidade de personalização em escala.
No entanto, há limitações importantes:
O envio pode sofrer atrasos de até 3 horas;
Se o cliente estiver com confirmação de leitura desativada, as métricas não serão contabilizadas;
É preciso obter consentimento dos contatos, seguir normas de privacidade e respeitar todas as exigências da Meta para não ter a conta penalizada.
Com a nova política de uso, o WhatsApp deixa claro que vai monitorar denúncias de spam de forma ativa.
Isso significa:
Se seus clientes marcarem suas mensagens como indesejadas com frequência, você corre risco de bloqueio ou suspensão do recurso;
O WhatsApp exige que sua empresa tenha políticas de privacidade claras, consentimento documentado e mecanismos para cancelamento de recebimento de mensagens;
A não conformidade com os Termos da Meta pode levar à suspensão temporária ou definitiva das listas comerciais.
A crítica mais comum entre empresários e especialistas é clara:
O WhatsApp está se tornando cada vez menos acessível para pequenos negócios.
Durante anos, pequenos empreendedores construíram relacionamentos sólidos com seus clientes por meio de listas de transmissão gratuitas.
Eles criaram redes de contatos, agendas segmentadas, estratégias simples e eficazes de divulgação — tudo com base no que o próprio WhatsApp incentivava.
Agora, com essa nova política:
O que era gratuito e acessível passa a ter custo direto e recorrente;
Pequenos negócios perdem sua principal ferramenta de engajamento em massa;
E nascem riscos reais de bloqueios e penalizações caso não sigam à risca as regras da Meta.
Brincadeiras à parte, muitos empreendedores já estão dizendo que o WhatsApp Business está desfazendo tudo o que construiu com o pequeno comércio.
“Passei anos montando minha agenda, cuidando do relacionamento com meus clientes, criando campanhas semanais… e agora preciso pagar R$ 0,33 por cliente para continuar fazendo o que sempre fiz de graça?” — relata uma comerciante de São Paulo.
Enquanto plataformas como Instagram e TikTok desenvolvem recursos cada vez mais acessíveis para microempresas, o WhatsApp parece estar empurrando os pequenos para fora do jogo — ou, no mínimo, para um modelo pago que muitos não conseguem sustentar.
Sem dúvida, o novo modelo de Listas de Transmissão Comerciais oferece mais profissionalismo e controle. Mas, ao mesmo tempo, elimina o aspecto mais democrático do WhatsApp Business: a capacidade de qualquer negócio, por menor que fosse, se comunicar com seus clientes de forma simples e gratuita.
Se você está começando agora, talvez valha a pena testar os 250 envios gratuitos.
Mas se já tem uma base consolidada de clientes, prepare-se: sua estratégia de comunicação vai mudar, e será necessário reavaliar o custo-benefício de manter o WhatsApp como principal canal de marketing.
Quer continuar usando o WhatsApp Business com inteligência e evitar bloqueios, penalizações e custos desnecessários?
Fique atento às novas regras, trace uma estratégia eficiente — e considere diversificar seus canais de comunicação.
Porque, no ritmo em que o WhatsApp está evoluindo, a pergunta que fica é:
Será que, ao profissionalizar tanto, ele não está se distanciando justamente de quem mais o ajudou a crescer?
Imagine o seguinte:
Uma pequena empresa investe meses — ou anos — formatando sua agenda de clientes no WhatsApp. Para crescer, começa a fazer o que o mercado recomenda:
Cria anúncios pagos no Instagram e Facebook;
Investe em Google Ads e tráfego pago;
Coloca botões de WhatsApp em seu site, loja virtual e bio do Instagram;
Participa de treinamentos, eventos e ações promovidas pela própria Meta, que sempre destacaram o WhatsApp como o principal canal de relacionamento com o cliente.
Tudo leva o cliente ao mesmo ponto de contato: o WhatsApp.
A empresa acredita estar construindo um canal direto, sólido e gratuito com seus clientes — como sempre foi. Mas então, sem aviso prático, o jogo vira:
Agora, para continuar conversando com essa base que você mesmo construiu… é preciso pagar por mensagem entregue.
Aos olhos de negócio do WhatsApp, é um movimento brilhante:
Milhões de empresas treinadas e estimuladas a usar o app como principal canal de vendas;
Usuários altamente engajados, trocando informações, promoções e suporte;
Toda a jornada de comunicação girando dentro de um só aplicativo — o deles.
Depois de fomentar esse comportamento por anos, agora começam a monetizá-lo, transformando o que era gratuito em um modelo de cobrança por envio.
Essa atualização não afeta as grandes empresas:
Elas já usam a API do WhatsApp Business Cloud;
Já têm equipes de marketing estruturadas;
E já estavam acostumadas a pagar por campanhas e métricas avançadas.
Os que mais perdem são os pequenos:
A mercearia de bairro, a loja de roupas da esquina, a clínica local, o prestador de serviço;
Negócios que construíram sua audiência com esforço orgânico, contato por contato;
Que agora precisam pagar para continuar fazendo o que sempre fizeram de graça.
Com essa mudança, o WhatsApp abre espaço para a entrada de novos concorrentes no mercado de comunicação empresarial.
Aplicativos de mensagens alternativos (como Telegram, Signal, até soluções de CRM com chat próprio) começam a aparecer como alternativas viáveis, principalmente para quem não pode ou não quer arcar com mais um custo fixo por contato.
E isso nos leva à reflexão final:
Será que o WhatsApp, ao mirar num modelo mais rentável, não está cortando o elo com seu público mais fiel — os pequenos que sempre o sustentaram?
As Listas de Transmissão Comerciais representam mais que uma mudança de nome — são uma mudança de filosofia.
O WhatsApp Business, antes visto como um grande aliado dos pequenos, passa a operar com lógicas de cobrança que favorecem os grandes.
Enquanto isso, os pequenos, que são maioria em volume, passam a repensar seu futuro na plataforma.
Se a conversa virou custo, é possível que novas conversas comecem a acontecer em outros lugares.
